30.12.08

não queria confundir os deuses...
sei que é ano novo,
mas só saiu roupa de carnaval!

27.12.08

vitrines

Fora, o tempo estava nublado
dentro, os livros foram empilhados...
aleatóriamente.
Pelo menos para mim,
que ainda que dentro era fora.

Fora, o cheiro era de guardado
dentro, exalavam odor de livros...
simplesmente.
Pelo menos pra mim,
que mesmo fora estava dentro.

22.12.08

denuncia

um moço de muito dinheiro roubou meu pôr-do-sol.
restou-me a cor das vidraças ao meu redor...
mas não é a mesma coisa, moço.

20.12.08

recomeçar

comece desorganizando.
se tiver afinco,
logo logo o dirão reinventar.

ria[se]
ria[lhes]

volte.
fotografe e pendure na parede aleatoriamente,
esqueça os ensinamentos adquiridos sobre a posição natural
[das coisas
não precisamos mais.

16.12.08

se eu soubesse escrever
contaria a todos daquele amor frio:

numa fotografia melancolicamente azul
jonh lennon e yoko ono
abraçavam-se

num quarto de alvenaria
numa cama limpa e clara

iluminados
pela luz matinal e descançada de um sábado
que jamais acabaria

15.12.08

vendo o mar, me ocorreu que aquela cor prata só podia ser coisa de deus...

***
peço sempre que lembro pra aprender a perdoar...
tenho paciencia, pra esperar a hora
e atenção pra perceber quando chegar

1.12.08

em pequenos deslizes.

imagens
da sua linda dança desageitada
...

passem queridas
sigam viagem.

29.11.08

tão

Vez ou outra a vida me faz tropeçar em sonhadores, fico tao sem graça diante dessas almas, é uma beleza tão desconcertante. É tão vergonhoso pensar que um dia eu proporcionei momentos de respiro aos que riram comigo e de tanto comer a realidade sem nem mesmo mastigar fiquei tão tão tão pesada que perdi a minima leveza necessária para acreditar...

em qualquer coisa.

26.11.08

mais verde na vida

Chovia na cidade e na parada em que eu esperava. O primeiro ônibus daria muita volta na cidade até chegar lá. Mas quis me molhar menos. Estava abafado, todas as janelas foram fechadas porque as pessoas preferem o mal-cheiro natural exalado pelos corpos do fim da tarde, a sentir umas gotas esparçadas de água molhando o rosto, e lembrando-nos a cada segundo que não temos o pleno controle da situação, nem teremos enquanto os céus forem abertos. De volta, de calor e de fedor se constituiu meu enjoou. Não comi a tarde, mas meu estômago estava cheio de qualquer coisa que ameaçava sair a qualquer momento.

Desci no Brasilia Shopping, (ou no museu da república, no congresso, não importa, porque Brasília não cheira a fim de tarde) não tomei quase nada de chuva. Pensei em aliviar meu enjôo com água antes do filme começar, porque a gente sempre pensa que ingerir alguma coisa resolve o problema até mesmo de estômago lotado.
- água, por favor, senhor.

As mãos cheias de verruga, que seguraram a minha água antes de mim, agitaram meu estômago, contribuindo para o enjôo.

Um deslize em meu olhar, me fez encontrar outro olhar. Esqueci as verrugas das mãos, enquanto o corpo que abrigava aquela alma, que se deixava amostra naquele olhar, se aproximava. Pude escolher desviar o olhar, mas quando as mãos saudáveis animadas por alma tão imunda me tocaram,

vomitei verde, dias e dias em pensamento e em sonho.

24.11.08

- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?
ah! somente o amor para salvar o domingo...
ou pelo menos ele teria chances de...
ajustando o tamanho dos corações
deixar os pulmões trabalharem
em paz.

22.11.08

tudo muito civilizado.

Em meio a todos os conhecidos, cumprimentaram-se. Disse-lhe um "oi, fale comigo, há quanto tempo". Ela sorriu. Ele estava diferente ( ou não?). Há muito não se viam. Se olharam. Tudo civilizadamente, é claro. Aos poucos se esvaziava a platéia. Caminharam. Conversas amenas. Perguntou como iam os dela e ela respondeu que bem, e que já havia cumprimentado os dele. Falaram rapidamente sobre seus projetos. No ar, uma promessa de marcar algo, um encontro desses que a gente vai pra não saber bem o que dizer e ensaiar tudo no pensamento antes de falar cada palavra.


Mas, se você sentir saudade, por favor não dê na vista. Bate palma com vontade, faz de conta que é turista.

20.11.08

dá nojo perebeba
dá nojo verruga
dá nojo suor
dá nojo o cheiro do onibus lotado no fim da tarde
dá nojo alma sebosa.

18.11.08

em meio ao blá blá blá surdo...
não percebes que ao não importa...
a única possibilidade de continuação é o ponto.


DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Mario Quintana

17.11.08

aparentemente,
até o cheiro do pânico, depois de algum tempo, pode despertar boas recordações.

16.11.08

- Quem tá ai?
- só Eu...

- Desculpa, mas é muito arriscado.
- Anh? O que é arriscado?
- Você com dois copos de cerveja...

15.11.08

elogio ao feio

hoje meu olhar esteve tomado pela exagerada feiura que compunham aquele par de tornozelos finos com sapatos bregas. A poesia da cena não estava na combinação de marrom recém-engraxado, mas nas 14 presílias douradas, em que se apoiavam os cadarços sem expressão.

quando já me lambuzava no mal-gosto alheio, subi a vista, sem querer, às meias grossas de algodão. pareceu-me um digno protesto a essa geração de culto ao belo.

opz!
os pés mecheram, as pernas descruzaram, o corpo levantou. O gran finale é proporcinoado pela estrelas encravadas na areia pelo solado ANTI-DERRAPANTE.

13.11.08

cena 10

Passou a tarde inteira na cozinha. Cozinhou um arroz com cuidado e um salmão ao molho de alcaparras, para a sobremesa teriam a torta preferida dele, torta alemã comprada na doceria da esquina. Quando o jantar já estava bem encaminhado, foi até a sala, arrumou as rosas, as velas, a toalha da mesa e as taças.

Colocou o vinho para gelar e foi tomar banho. Primeiro o exfoliante, depois o sabonete, depois o óleo de amendoas, para sua pele estar impecável a noite, para que ele lhe dissesse que não havia pele mais macia, e delicadamente lhe perguntasse se poderia se embebedar em seu odor. Enchugou-se, passou o rímel, a sombra delicadamente brilhante, o batom bem vermelho. Vestiu-se de preto.

Tomou alguma coisa que estava na carteira e tocou a campanhia. Ela abriu a porta. Convidou-o para sentar e buscou-lhes o vinho de entrada que acompanharia as amenidades.

Como quem não quer nada ele disse: estou morrendo de fome. Derretendo em suavidade sua voz grave lhe responde: Então vamos jantar.

A bela mesa de rosas e velas foi complementada com o arroz e o salmão. Ela serviu os dois.
Não falaram. Ela viu flores e salmão. Já ele atribuia todo aquele maravilhoso sabor, à fatia de figado e um grande pedaço de coração de que ela lhe servira. Não conseguia olhar pra frente porque via no corpo dela o vazio de cada parte que lhe servira, passou todo o tempo olhando seu prato. Quando sem querer olhou pra frente, viu suas cavidades vazias serem preenchidas por um liquido gosmento e verde que estava na taça. Ela tomava vinho.

Finalmente acabou a etapa de romantismos desnecessários, poderiam trepar. Percebeu que era sua hora e fazer alguma coisa, levantou-se da mesa, puxou-a pela mão... pensou com certo nojo que treparia também com sua metade gosma. Ela levantou-se pensando que naquele dia poderia ser homem, e somente trepar, esquecendo da merda que fora o jantar em que eles não só nao trocaram uma só palavra, como ele nem conseguiu perceber seus olhos pintados, porque não lhe olhara.

Acompanhando os gemidos orgásticos, viu sair dela num vomito interminável toda a gosma verde de que lhe preenchera durante a relação. Era uma gosma espessa, sem fim. Ela levantou e vestiu-se, foi fazer qualquer coisa. Ele se encolheu com medo de morrer afogado no líquido que subia rapidamente em altura no quarto. E morreu, de medo. Dando-a de volta a liberdade que lhe roubara.

10.11.08

ordem das coisas

se deixas
a almofada um dia não será mais preferida,
se suja ou rasga, que pena...
mas já começou sex and the city?

7.11.08

isso também passa

Essa história começa com a morte da cachorra. A doença foi o carrapato. A maldita doença do carrapato fez o bicho ir amufinando, amufinando... até que um dia ele morreu.

O pai que não agüentava mais levar a maldita cachorra pro médico sentiu alivio, mas não contou pra ninguém. Teve vontade de mandar os meninos pararem com o chororô. Mas ele podia agüentar os meninos chorando, a cachorrinha era tão bonitinha, e eles brincavam tanto com ela.

A menina, que encontrou a cachorrinha na feira e pediu tanto pro pai comprar, começou a contar os dias que passavam dali, porque sua mãe dizia que sua cachorrinha tava no céu e que tudo aquilo ia passar. A mãe sentia falta, mas a menininha chorava tão profundamente, que as vezes só escutávamos aaaaaaaaaaaaaaaa, como se quisesse tirar do estômago toda a descrença.

Quando sua mãe saiu de casa para comprar o pão, pegou a tesoura do costureiro, ficou de frente para o espelho, como o tempo não passava nunca, cortou mecha a mecha do cabelo. Quando a mãe entrou em casa e viu o cabelo da filha perguntou o que diabos ela tinha feito com o cabelo.

- quando crescer, vou saber que tudo passou.

2.11.08

um dia?

Será que um dia a gente acorda e se sente completo, como se nada faltasse? e se esse dia acontecer, tudo perde o sentido de se buscar, ou se atinge a paz completa?

27.10.08

Esta noite passou por aqui uma dessas pessoas que pulsam arte e acreditam na vida. Devolveu-me, este senhor, algo de mágico que existe em sonhar. Que eu espero que sobreviva à noite de sono.

existencialismo verbal

O que existiu, existiu (no passado, digo).
E não adianta tentar acreditar que foi invenção porque não existe mais.
Porque se existisse ainda, seria o que existe.
Se tudo que existiu, existisse agora, a pobre forma existiu ficaria obsoleta, se mataria com overdose de calmantes, ou se contentaria em sobreviver na forma negativa, tomando os mesmos calmantes com moderação.

25.10.08

entre uma parede e outra do estomago
havia algo

entre uma parede e outra da garganta
também

havia

23.10.08

umas mil palavras rondavam no ar
sem destino, colidiam nas
muitas cabeças desta sala

bem no centro havia uma carteira branca
sobre, uma folha em branco
ao lado, uma caneta descansando

nessa pequena zona de nãos
palavras se perderam para sempre
no ar

20.10.08

recorte de um diálogo com narrador onisciente

discussões sobre a reforma curricular
[...] Claudio diz: acho que devemos usar esse nosso sentimento de frustração para...
Lara interrompe: posso distribuir sentimento de frustração pra quem precisar!
falando da vida...

Adiando...

http://www.youtube.com/watch?v=4P785j15Tzk&feature=user

17.10.08

em ver

de repente
o cinza me pareceu uma delicada combinação entre brancos e pretos

onde está o alivio?

Quando insistes em buscar além-pele a salvação, necessariamente, distancia-se dela. Não há salvação, perdão. Falava de calmaria. (O caos antecede a calmaria que antecede o próximo caos.
Mas para que pensar no próximo se sequer vivo a calmaria que o antecede?)

De nenhuma conversa será recortada a palavra sagrada. Nenhum abraço preencherá seu vazio. Nunca. Mas como chegariamos às viceras se não fossem todos os paleativos que nos prendem nesse agora, e não permitem que a gente se perca dentro da estupida crença que a nossa existência é de alguma forma merecedora da nossa atenção exclusiva?

Esvaziar-se de si mesmo... talvez seja um começo. Um começo de reconstrução.

16.10.08

Receita

Preciso de uma receita urgente.


Pra acabar com o tédio, a morgação e a falta de ânimo.


Mas só aceito receitas que curem os três juntos.

O que sugerem?

14.10.08

Ele era médico. Mas, antes disso, era pessoa. Talvez, por isso, buscasse engrandecer sua própria alma. Entre uma dor de garganta e outra, apareceu-lhe o paciente Raúl, que o convidou para conhecer sua casa.
Ele foi
.
Na casa de Raúl havia uns charutos e um Fidel. Descobriu ainda naquela noite que em um Fidel havia um desejo de revolução.

A revolução cubana teria sido mérito do vírus primeiro que levou Raúl pro hospital? Ou da fome que Che sentiu na noite em que foi convidado para jantar na casa de Raúl?
amenidades.. (hahaha) me ocorreu falar de coincidências hoje.

12.10.08

Happy feet

Whatcha doin' there, boy?
I'm happy, Pa!
Whatcha doin' with your feet?
They're happy, too!

10.10.08

onde está a beleza?

um belo convite
um duro não

o convite continua belo.

8.10.08

amena


Indicação de sassá! Ri demais :)

7.10.08

sabedoria popular

pra queimadura tem pasta de dente...
pra estancar ferida tem estrume...

sempre foi assim...
até no pagador de promessas... foi.
como faço, então, pra chegar estrume no meu coração?

o bucho do céu

Com um facão
Foi um facão que lhe enfiaram na barriga e subiram até a garganta,
pequeno que era, flutuou no ar na hora derradeira.

Um facão anulou friamente todas as suas potencialidades,
desesperançoso que era, caprichou no coração

Foi-se, assim, um dia que era uma doce manhã.
ainda na luz matinal e delicada às 7h...

5.10.08

vovó

minha vó tem alzheimer. eu sei que ela está ali.
mas só vejo seu corpo deitado com suas funções atrofiadas.

a dor, a dor, a dor. ela reclama o tempo inteiro.
a dor, a dor, a dor. de origem inexplicável.

a dor, a dor, a dor.

nunca encontramos a dor.
dói vazio.

hoje lhe entendi vovó.

4.10.08

Mais do novo.

Menos do antigo.

3.10.08

venha sim!

um dia
tanta saudade
tanta humanidade...
quis estar ai, quis estar aqui...
quis mais cerveja quis mais vc e vc e vc... e vc tb!
que nao podiam chegar em 15 minutos pra me acompanhar
fosse no xadrez... fosse na cerveja...
fosse na conversa... fosse no que fosse...
fosse em nada, fosse sendo você...

1.10.08

com elegância e discrição.
hoje viram minha alma.

pensamentos aleatórios

ontem, eu escreveria sobre a difilculdade de lidar com as múltiplas possibilidades
hoje, quis escrever sobre a impossibilidade diante da falta de escolhas.

***

qual o problema de acreditar nas suas convicções sobre conduta?
porque desconfiar das suas proprias resoluções? só porque diferem do padrão?

***
se tudo se faz de qualquer jeito porque não experimentar o zelo na sua própria vida?

***

ah não! Outubro!... o que eu fiz até agora?

28.9.08

Ainda sobre os gênios

Sobre o casamento:

na adega:
um homem/ uma mulher/ um deslize/ um beijo roubado!

no café da manhã:
um homem/uma mulher/ uma deixa
ela diz: te ensino tudo que eu souber, em troca você me ensina tudo que souber.

a adega é a mesma
eles não mais
um beijo acontece sem acontecer.

Sobre o amor livre:

jim com o jornal na mão, olha para jules e diz que perderam, quando tentaram reinventar o amor.

Entre as convenções falidas e as inovações mal sucedidas, Truffaut nos instiga a tentar.
Ou se nasce gênio, ou não.
Já a genialidade, resulta de dedicar-se a.

não na poesia
não no amor
não na vida.

25.9.08

pensamentos caminhantes

acordei cheia de pensamentos.
o dia foi passando e eles cairam lentamente da minha mente...
aparei-os com uma folha de papel.

me irritei com os tecnicistas e chorei com alan resnais...
eles voltaram.

janelas e janelas depois
meus pensamentos esfumaçam,
nao vejo por onde vão
vejo que não sobrou nada pra você.

23.9.08

um olhar

Ele olhou.


Ela sorriu.


Abraços.

22.9.08

um monte de nada
que diferença faz?

se ele derrama?
que diferença faz...

19.9.08

Lupas

Onde estás querida?
- Acalma-te! Ela já vem.
- Ela já está.

Se te deixo cigarros e wisky,
à noite virias me encontrar?
- Ela já vem.
- Não virá. Já está.

Se já vem, por que ainda não veio?
Se está, aonde está?
- Espera a hora certa de chegar.
- Ontem eras todo mediocridade, hoje não mais.

Não mais?
- Não mais!
- Não mais!

Silêncio.
Ele toca a mesa delicadamente com a ponta dos dedos.
Levanta-se bruscamente e derruba o copo de vinho.
Grita desolado:
- Quem lhes deu o direito de roubar minha angústia e preencher-me de vazio?

18.9.08

Que queres com esse cigarro na mão, menina?
- ser poeta, mamãe!

14.9.08

Canela

Uma luz suave indicava que eram sete da manhã, ela teria que trocar o pijama por roupas. Uma luz suave indicava que eram sete da manhã, ela teria que de pijamas acordá-lo. O cheiro da canela, não perguntava se ela queria cheirá-lo, entrava-lhe pelas narinas e descia direto ao estômago. O cheiro de canela vinha do café. O cheiro de canela vinha do pão doce do café da manhã. O café deveria animá-la para os estudos. O sabor do “breakfast bread” lhe distraia enquanto preparava o café da manhã para ele. A combinação de luz com canela lhe lembrava a mulher independente que seria. A luz com canela lhe lembrava a mulher subserviente que fora. Não se sentia mais essa ou aquela, senão essa e aquela.

11.9.08

Sexto sentido

Duas meninas conversavam. Duas meninas muito diferentes conversavam.

Elas estavam numa festa cinza, com muita cerveja, com muita gente que ansiava por preencher a sexta à noite. Com muita gente que sabia que a sexta-feira não se podia ficar em casa, não era permitido não beber. Viviam uma imaginária e consolidada imagem de sexta feira, de sexo e drogas, claro, música também.

Voltando as meninas, não sei se as descrevo pelo que elas pensam ou pelo que vestem, porque na verdade penso que elas vestem o que pensam e pensam o que vestem, entende? Posso dizer que entendiam a liberdade de maneiras distintas. Se para a morena alta e espaçosa liberdade tinha a ver com estar distante de onde sua própria vida estava agora, pra outra de salto e coque no cabelo, muito bem maquiada, tinha a ver com um processo interior de não precisar das coisas.

Eram iguais em suas angústias. Eram boas em admitir quão distantes estavam dessa embaçada liberdade. Eram mas não descobriram isso ainda, nem sei se vão descobrir um dia. Porque insistem em se deter em assuntos superficiais do clima, da universidade, dos políticos e da TV, coisas que se falam em festas com desconhecidos.

Assemelhavam-se também pela sensação que sentiam quando engoliam um gole de cerveja gelada, o primeiro da noite. Primeiro o sabor amargo na língua, depois se espalha por toda a boca, depois quando você engole lentamente o gelo vai passando pelo esôfago até chegar ao estômago e espalha, como se nunca nenhuma comida houvesse passado por ali. Para então sorrirem. Os outros goles eram automáticos, se dariam porque o copo estava ali em frente.

Deram-se. Os copos enchiam-se porque se esvaziavam, num ciclo que parecia sustentar-se na física natural.

Um dos meninos que estava por ali tinha intimidade com a morena alta e começou dar-lhe noticias de conhecidos que eles tinham em comum, assim que os assuntos de clima, universidade, políticos e tevê se esgotaram. Contou-lhe que um amigo estava noivo, complementou falando que tinha medo da futura esposa dele. A morena alta lhe tomou a fala, levantou, e recebeu todas as atenções que vagavam dispersas pelo lugar. Disse em bom tom: Mulher boazinha assim que nem eu, não segura homem nenhum. Riram-se.

As duas riram. As outras pessoas também riram. Todo mundo pensou em alguém. As duas riram-se e pensaram, sem saber, no mesmo homem. Também se odiaram um pouquinho, porque as mulheres sentem, pelo menos um pouco, quando não sabem.

7.9.08

torneiras automaticas

Não consigo entender o porque de uma torneira automatica se ela acaba justamente quando colocamos o sabao na mao. Poderiam pensar em dois jatos: um rapido somente para molhar, e um 10 segundos depois um pouco mais demorado para retirar o sabao da mão. Não?

3.9.08

De

De cabra cega anda com cuidado
de andar sem poder ver
esquece-se o tipo do piso a cor da parede

De bobear aparece o medo
de qualquer coisa que se possa imaginar
de fato.

Por esquecer que é todo dia assim
por esquecer que é assim em tudo.

28.8.08

Sobre o F5 e outras coisas próprias desse vício

Sempre me fascinou muitíssimo o poder que essa tecla exercia sobre a minha vida. Não só ela como todas as inutilidades do mundo internético: horas e mais horas de MSN, ORKUT, Yahoo... F5, F5...

Claro que tudo isso traz de alguma maneira um benefício, é certo que desenvolvi um senso informático raso, mas suficiente pra me virar na maioria das situações, e uma razoável habilidade para fuçar a maioria dos programas que preciso e obter um resultado agradável. Talvez eu tenha desenvolvido alguma habilidade para os livro/capítulos disponibilizados na rede, ainda que hoje me julgue incapaz de ler um livro todo online.

Maravilha-me, igualmente, a possibilidade de economizar papel, de fazer e refazer infinitamente as coisas sem gerar tantos custos ao meio ambiente, já que o meu lixo virtual só deteriora minha própria mente.

Reconhecidas as superficiais vantagens de horas a fio na rede, posso iniciar-me nas questões para as quais não obtive resposta, se é que um dia terei. Será que algum dia eu terei menos horas online? Disponível na rede para o que pode acontecer?

Em períodos mistos, tive ora um vício mais intenso, ora um autocontrole vigiado, de seguidos nãos para minha vontade incontrolável de ver quem está disponível. Meus amigos contribuem para essa minha irracionalidade estando muito tempo online, uma vez que eu moro longe da minha terra natal, posso me justificar a mim que esse é um bom meio de manter o contato com eles.

Sim, um bom meio, mas poderia ser facilmente substituído por um email, por exemplo. Por um email que eu tenho geralmente tanta preguiça de responder, porque exige que você pare, pense sobre o que vai escrever, escreva, e se aprofunde em algumas idéias. Parece me interessar mais, o pensamento fragmentado desinteressado das conversas efêmeras do MSN.

Até quando estarei online sempre? Não sei responder a essa questão, nem mesmo a que vem antes dela: o que irracionalmente me faz ligar o computador e passar horas sentada na cadeira tendo tantas outras coisas me seduzindo em volta? E porque essa é a que me seduz mais?

Só mais uma pergunta que não consigo responder: o que busco nos apertares incessantes do F5, o que eu acho que pode realmente mudar de uma hora pra outra? O que eu procuro? uma tecla que animasse a vida? Que mudasse tudo? Talvez tenha esperança que ela possa me resgatar desse tédio.

Mas não, a vida não é tão urgente assim. Pelo menos não todos os dias, nem todas as horas.

27.8.08

às marianas da minha vida

seria esse o unico nome que me faria crer que os nomes determinam qualquer coisa na vida das pessoas... se determinam na vida dos proprietarios interferem igualmente na vida dos que compartilham da vida dos proprietários...

se falamos em compartilhar vidas... agradeço-lhes portadoras de tão esquisito nome!

lindas marianas apareceram pra me acompanhar
todas estão distantes agora...

duas em natal, uma na suecia.
queria conhecer outra por aqui...
não que substitua mas que se some...

queria conhecer outra.
mas estou sempre duvidando da capacidade de qualquer nova pessoa se equiparar a algum dos amores de minha vida!

26.8.08

Atenção!

Preste atenção.
Preste atenção!

"eu acho que pra vocês estudantes o mais importante é prestar atenção nas coisas"
- Que coisas André Luiz?

André naquela palestra aos estudantes de audiovisual supostamente sobre seu filme "Louco por Cinema" repetiu algumas vezes que deveriamos ser atentos. Atentos ao que realmente gostamos de fazer. Para em seguida fazer.

Todas as nossas decisões se expressão através das microdecisões, quero dizer que não importa que você tenha decidido emagrecer se você toma sorvete. Como pouco representa dizer xau, se no momento seguinte começa a despir-se.

***

E quando não se decide em grandes frases, mas pelos pequenos e não planejados sins e nãos? Sem saber se agira certo/errado, (assumindo que existe certo/errado, apenas assumindo, não concordando).

Preste atenção nas coisas. Preste atenção no seu pulmão e no tanto de ar que inesperadamente ele começa a suportar.

22.8.08

19.8.08

Calo-me porque as palavras, talvez, quebrem a fluidez do silêncio do universo.
momento de sentir.

18.8.08

arrumar

Acho que ainda não conseguimos entender as coisas só através do desenvolvimento de idéias, precisamos sempre estar materializando de alguma forma o que se passa na nossa mente. Precisamos dos mais variados simbolismos. Tenho uma amiga quando acabou com o namorado queimou tudo que ele lhe deu. Acho que de alguma forma ela queria incinerar suas memórias não as que estavam nas fotos a serem queimadas, se não as que não a deixavam trabalhar, pensar, dormir...

Hoje arrumei meu guarda-roupa e uma boa parte do quarto como quem arruma a vida pra começar mais um semestre. Ou arrumava, na verdade, minha vida pra começar o semestre enquanto arrumava aquelas roupas? Mas os livros estão claramente entulhados, como minhas idéias.

15.8.08

2008 ponto 2

olhei minha agenda de perfil, e, sem pudores, o marcador revelou que mais da metade do ano se foi.

14.8.08

Eh maior é Deus pequeno sou eu
O que eu tenho foi Deus quem me deu
O que eu dou é o que eu tenho
Foi Deus quem me deu

quem canta é beth carvalho!

12.8.08

packing... as always!

Primeiro você chega, depois se acomoda, e quando vc tem pra quem ligar é hora de mudar.
É mesmo?
Quando não dá pra mudar tem as viagens de fim de semana. Esse sim, o outro também.
Às vezes cansa. Nem imaginava.

Esse ano estive sempre arrumando malas. Visitei amigos de 8, 5, 3... anos que não via. Fiz amigos que já penso em quando vou reencontrar.

De alguma forma estive por toda parte.
De outra forma, não estou nunca em lugar nenhum.

mais malas!

9.8.08

lugares publicos noturnos

eu queria na cidade um lugar que desse pra andar a noite de boa. Se o parque das dunas abrisse, ou o novissimo parque da cidade, ou mesmo se a praia voltasse a ser segura, só para caminhar um pouco enquanto descobrimos melhor o que as outras pessoas pensam.


vai ver a praia foi destruida pelos empresários da orla e da rua do salsa em conjunto com os dos bares de petropoles pra o tempo inteiro termos que estar em lugares SEGUROS, sem tantas prostitutas. Nesses lugares so dá pra sentar, são meio abertos, mas eu queria ver um céu inteiro, oras.


teorias da conspiração a parte, onde se vai sem dinheiro?

6.8.08

vestindo bermuda e havaianas disse-lhe que queria ser livre. Em outra parte do mundo, vestindo camisola, ainda, ela escreveu-lhe alguns meses depois para contar-lhe sobre sua deliciosa sensação de viajar para suas expedições, coletar seus fungos e pegar a estrada de volta pra casa sem a ansiedade de esperar noticias suas, ou mensagens de infinitas saudades. Pensou que pela primeira vez, desde que se beijaram, voltar pra área em que os celulares pegam não fora motivo de angústia. (Devo, enquanto narradora, interferir pra dizer que aquela angústia era completamente desnecessária, uma vez que até eu que nada tenho a ver com a história sabia que ele não lhe escreveria.)

O cantor pergunta: aonde vou agora livre mais sem você? Não percebeu, mas não quis. A qualquer lugar, arnaldo.

nao consigo postar droga!

2.8.08

Sr. Tempo, sempre ele!

Com seu tic-tac incessante, anunciando sonecas e novas alvoradas. Nunca, nunca pára.


Mas aí, tem horas que a gente pára. Sente que é hora de esquecer desse senhor ativo e onipresente e dar lugar à outras coisas. Aí vem a chuva. O calor. Os amigos. As oportunidades que vêm sem hora certa, sem data nem TEMPO marcado. Abraços. O velho que parece novo, mesmo que só por agora.

e aí o novo-velho toma novos ares e... é tempo de morangos, Macabéia?

você tem o que dizer?


penso, às vezes, que escrevo sem ter o que dizer...

***

Sobre quanto vale ou é por quilo? Como uma boa ideia pode ser estragada em sua realização. O filme se propõe a revelar o mercado que existe por trás das boas ações. O enredo principal, enfocado em uma empresa que está desviando dinheiro de um projeto pra uma determinada favela, é interrrompido por curtas histórias da escravidão. As histórias são facilmente associaveis a enredo atual. Uma escrava que ajuda a um amiga emprestando-lhe dinheiro a juros e uma mulher que ajuda a empregada pagando a festa de casamento de sua sobrinha, e essa tem que trabalhar exorbitantemente pagar pagar a dívida.

Esquecendo o enredo principal, e nos voltando somente à história dessa empregada temos: alcolismo, criminalidade, exploração dos patrões dos funcionários menos esclarecidos, a falta de perspectiva na favela. A empregada começa o filme tomando um copinho de cerveja e no fim do filme cedo da manhã está embreagada. Esse tema foi retratado com grande naturalidade, como eu imagino que aconteça: de copo em copo. O genro de tanto ser cobrado pelos desejos consumistas e pelos sonhos da sua esposa se torna um matador de aluguel para ter uma vida digna aos olhos do capital. Sua esposa de vinte e poucos anos nao se anima de fazer nada na vida, espera por um bebê e lê revistas de fofoca enquanto sonha com a vida de atriz. Todos esses aspectos foram abordados em uma história secundária.

Entre um roubo de escravo e uma morte de aluguel vemos uma idéia muito boa se esvaindo. Se fosse um documentário? Se os desvios dessem em alguma coisa? Se ela não tivesse se corrompido no final alternativo para salvar sua pele? Se esquessecem a escravidão? Ou se o link com o presente fosse feito de outra forma?

Não sei da resposta de como se fazer um bom filme. Mas todo e qualquer ser humano sei reclamar muito bem do que foi feito.

***

cada vez menos, as mesas de bar me parecem reconfortantes. Em domicilio conjugal, Doinel e Chistine lêem na cama. Penso se um dia vou poder encontrar as pessoas ficar em silêncio o tempo que me parecer agradável.

***

Acho que queria escrever mais sobre bares, mas o assunto principal so me chegou ao fim do post e confirma minha especulação inicial de que escrevia sem ter porque. Fica pra próxima o real assunto principal.

31.7.08

sintonia de gerações

- A vida é curta, passa muito rápido tem que aproveitar. - Essa foi a frase que a mulher de meia idade proferiu. Ainda que de boa formação, de certo graduada, e se não me engano com mestrado em curso, ela escorregou. Pá! Meteu um clichezão desse no meio de uma conversa que se anunciava mística.

Sua jovem interlocutora calou-se, desviou o olhar dos olhos daquela mulher, olhou para as janelas no fundo da sala, para o computador ali vizinho. "Como é aproveitar a vida?".

Mal acabou de se questionar fora interrompida pela mulher, que lera em seu olhar perdido qualquer outra coisa, que não a que ela pensava: - Claro, não falo de viver num bar.

- Perguntava-me justamente o contrário: o que seria aproveitar a vida?. Enquanto falava se perguntava qual o caminho do meio entre o que está nos livros e o que está fora deles.

silêncio na sala.

11.6.08

E eu nem sabia!

Criei esse blog com Lara e eu nem sabia que ela seguiu postando! ahahahha Que surpresa!

Como se posta de tudo que der na telha, lá vai.

Que sede é essa, que não acaba nunca, de conhecer o mundo, de mochila nas costas, de saber que quanto mais se lê, menos se conhece do que se passa...

E quantas perguntas!!! Sobre tudo, sobre todos. E quando se pára de perguntar e só se observa, ali, calada, um misto de felicidade e angústia, de inquietação e de curiosidade.

Aí chega o sono. E outro dia começa, nessa cidade de clima desértico, que ora faz calor, ora frio!!!
E ainda sim, respira uma boa dose de liberdade.

19.3.08

Sonhos...

Sonho com o dia que eu vou chegar em casa e não vai ter mais nada pra arrumar!
Sonho..

17.3.08

Pensei em esse domingo falar sobre domingos, na verdade, hoje já é segunda mas ainda tah com muita cara de primeiro dia da semana, pra mim o dia só muda quando eu durmo mais de 4 hrs. Às vezes eu penso que morando só, os domingos tem muito mais cara de domingos e não importa quantas cervejas vc beba, ou quantos amigos visite... Nada!! Nada importa... a melancolia deve estar no cheiro desse dia ou na cor. Talvez mais na cor, por que a luz conseguiria melhor que qualquer outro artificio passa por toda a terra em 24hrs.

O final esperado é uma solução sensacional de rebatedores cor de rosa no céu... decepciono o leitor dizendo que depois de pensar tudo isso não mudei se quer a cor da cortina da minha casa e que o por-do-sol hoje foi um dos mais bonitos que vi na cidade que deve ter um dos céus mais bonitos do mundo todo. Acho que hoje não teria disposição suficiente pra fazer isso, e amanha.. bom amanha ainda vai faltar tanto tempo pra chegar o proximo domingo...

21.2.08

Frango Atropelado

Na mesa da pequena cozinha da casa de Lulu, senta-se ela e a irmão de um lado, e de frente pra Lulu ficam seu pai e sua mãe. Na hora do almoço eles costumam comer arroz, feijão, uma saladinha e algum tipo de carne, que sua mãe diz que é pra dá sustância.

Enquanto comiam esta tarde sua mãe disse: tira o cotovelo da mesa minha filha. Lulu que já não gosta muito de falar baixou os cotovelos e continuou a comer bem rápido, bem rápido bem rápido. Quando perguntam a ela pq q ela come tão de pressa ela inventa aula, inventa dever de casa, visita a uma amiga, até shopping, e quando não lhe ocorre nada ela fala que é pra comida não esfriar. Sua mãe é quem sempre pergunta, todos os dias como todas as mães fazem. Lulu pensa em começar a comer bem menos, pra se livrar dessa irritante pergunta.

Mas essa pergunta se irrita, não tira fome, o que já é muito bom. Seus pais, entre uma garfada e outra costumam conversar sobre as intempéries do dia, querem atualizá-las de tudo: os últimos atestados de óbito, os vulcões que entraram em erupção e mataram quase uma população de uma cidade inteira, ou qualquer ataque terrorista em uma terra longínqua que eles se quer sabem onde fica no mapa. Às vezes Lulu pensa que seus pais se sentem mal com o silencio, e querem falar qualquer coisa, não sabe exatamente por que esses são os assuntos mais correntes. Ela só acha que não combinem com o almoço porque dão um nó no seu estômago e acabam com qualquer apetite, quando ela não sente vontade de vomitar.

Ontem, para não ouvir o que a mãe dizia e não estragar o almoço ficou observando-a comer, enchendo a boca e engolindo sem sentir gosto na comida, nem mastigar. Freneticamente.

19.2.08

tic-tac tic-tac tiiiiiic-taaac.



Dalí.

Amenidades à vontade

O primeiro post destina-se a explicar a que veio. Veio sem pressa, assim, como quem não quer nada. Chegou como um espaço que a gente preenche como quer, à vontade, Com todo tipo de amenidades, assim mesmo, sem cerimônias e de toda a sorte. Pois então, se aprochegue, de qualquer jeito, de qualquer cor, mas chegue.

Diz ele, o tal do Aurélio:
À Vontade. 1. Sem constrangimento; a cômodo; a bel prazer. 2. À larga; com fartura; sem peias.
Amenidades. Assuntos vagos, gerais, superficiais.