28.9.08

Ainda sobre os gênios

Sobre o casamento:

na adega:
um homem/ uma mulher/ um deslize/ um beijo roubado!

no café da manhã:
um homem/uma mulher/ uma deixa
ela diz: te ensino tudo que eu souber, em troca você me ensina tudo que souber.

a adega é a mesma
eles não mais
um beijo acontece sem acontecer.

Sobre o amor livre:

jim com o jornal na mão, olha para jules e diz que perderam, quando tentaram reinventar o amor.

Entre as convenções falidas e as inovações mal sucedidas, Truffaut nos instiga a tentar.
Ou se nasce gênio, ou não.
Já a genialidade, resulta de dedicar-se a.

não na poesia
não no amor
não na vida.

25.9.08

pensamentos caminhantes

acordei cheia de pensamentos.
o dia foi passando e eles cairam lentamente da minha mente...
aparei-os com uma folha de papel.

me irritei com os tecnicistas e chorei com alan resnais...
eles voltaram.

janelas e janelas depois
meus pensamentos esfumaçam,
nao vejo por onde vão
vejo que não sobrou nada pra você.

23.9.08

um olhar

Ele olhou.


Ela sorriu.


Abraços.

22.9.08

um monte de nada
que diferença faz?

se ele derrama?
que diferença faz...

19.9.08

Lupas

Onde estás querida?
- Acalma-te! Ela já vem.
- Ela já está.

Se te deixo cigarros e wisky,
à noite virias me encontrar?
- Ela já vem.
- Não virá. Já está.

Se já vem, por que ainda não veio?
Se está, aonde está?
- Espera a hora certa de chegar.
- Ontem eras todo mediocridade, hoje não mais.

Não mais?
- Não mais!
- Não mais!

Silêncio.
Ele toca a mesa delicadamente com a ponta dos dedos.
Levanta-se bruscamente e derruba o copo de vinho.
Grita desolado:
- Quem lhes deu o direito de roubar minha angústia e preencher-me de vazio?

18.9.08

Que queres com esse cigarro na mão, menina?
- ser poeta, mamãe!

14.9.08

Canela

Uma luz suave indicava que eram sete da manhã, ela teria que trocar o pijama por roupas. Uma luz suave indicava que eram sete da manhã, ela teria que de pijamas acordá-lo. O cheiro da canela, não perguntava se ela queria cheirá-lo, entrava-lhe pelas narinas e descia direto ao estômago. O cheiro de canela vinha do café. O cheiro de canela vinha do pão doce do café da manhã. O café deveria animá-la para os estudos. O sabor do “breakfast bread” lhe distraia enquanto preparava o café da manhã para ele. A combinação de luz com canela lhe lembrava a mulher independente que seria. A luz com canela lhe lembrava a mulher subserviente que fora. Não se sentia mais essa ou aquela, senão essa e aquela.

11.9.08

Sexto sentido

Duas meninas conversavam. Duas meninas muito diferentes conversavam.

Elas estavam numa festa cinza, com muita cerveja, com muita gente que ansiava por preencher a sexta à noite. Com muita gente que sabia que a sexta-feira não se podia ficar em casa, não era permitido não beber. Viviam uma imaginária e consolidada imagem de sexta feira, de sexo e drogas, claro, música também.

Voltando as meninas, não sei se as descrevo pelo que elas pensam ou pelo que vestem, porque na verdade penso que elas vestem o que pensam e pensam o que vestem, entende? Posso dizer que entendiam a liberdade de maneiras distintas. Se para a morena alta e espaçosa liberdade tinha a ver com estar distante de onde sua própria vida estava agora, pra outra de salto e coque no cabelo, muito bem maquiada, tinha a ver com um processo interior de não precisar das coisas.

Eram iguais em suas angústias. Eram boas em admitir quão distantes estavam dessa embaçada liberdade. Eram mas não descobriram isso ainda, nem sei se vão descobrir um dia. Porque insistem em se deter em assuntos superficiais do clima, da universidade, dos políticos e da TV, coisas que se falam em festas com desconhecidos.

Assemelhavam-se também pela sensação que sentiam quando engoliam um gole de cerveja gelada, o primeiro da noite. Primeiro o sabor amargo na língua, depois se espalha por toda a boca, depois quando você engole lentamente o gelo vai passando pelo esôfago até chegar ao estômago e espalha, como se nunca nenhuma comida houvesse passado por ali. Para então sorrirem. Os outros goles eram automáticos, se dariam porque o copo estava ali em frente.

Deram-se. Os copos enchiam-se porque se esvaziavam, num ciclo que parecia sustentar-se na física natural.

Um dos meninos que estava por ali tinha intimidade com a morena alta e começou dar-lhe noticias de conhecidos que eles tinham em comum, assim que os assuntos de clima, universidade, políticos e tevê se esgotaram. Contou-lhe que um amigo estava noivo, complementou falando que tinha medo da futura esposa dele. A morena alta lhe tomou a fala, levantou, e recebeu todas as atenções que vagavam dispersas pelo lugar. Disse em bom tom: Mulher boazinha assim que nem eu, não segura homem nenhum. Riram-se.

As duas riram. As outras pessoas também riram. Todo mundo pensou em alguém. As duas riram-se e pensaram, sem saber, no mesmo homem. Também se odiaram um pouquinho, porque as mulheres sentem, pelo menos um pouco, quando não sabem.

7.9.08

torneiras automaticas

Não consigo entender o porque de uma torneira automatica se ela acaba justamente quando colocamos o sabao na mao. Poderiam pensar em dois jatos: um rapido somente para molhar, e um 10 segundos depois um pouco mais demorado para retirar o sabao da mão. Não?

3.9.08

De

De cabra cega anda com cuidado
de andar sem poder ver
esquece-se o tipo do piso a cor da parede

De bobear aparece o medo
de qualquer coisa que se possa imaginar
de fato.

Por esquecer que é todo dia assim
por esquecer que é assim em tudo.