27.2.11

16.2.11

Superstição

Sempre que eu saio andando por aí sem muito rumo penso que alguém está me levando pra algum lugar. Se não é o universo me empurrando de um lado, seria um objeto não identificado me puxando por outro. Nunca a teoria de que o universo esteja me empurrando tem sido suficientemente convincente, por outro lado, a de que um objeto me atrai por algum motivo em algum lugar do mundo me encanta. É como se eu saísse por aí buscando um encontro algo que eu não sei o que é, mas que me chama de algum lugar. É como se encontrar o que me chama, fosse encontrar um pouco de mim que estava perdido no mundo e precisa ser religado. É como se eu estivesse sentindo a música e entrando na dança.

É a mesma lógica das viagens de janeiro, em pequenas proporções. Ontem sai de casa para trocar o dinheiro do aluguel. Cheguei na casa de cambio e estava muito cara, como nunca troco muito dinheiro costumo trocar pelo preço que seja. Ontem não. A conversão de $4,16 me pareceu muito abusiva e resolvi ir em uma casa de cambio que costuma ser mais barata, também estimulada pelo fato de ser o último aluguel que pago aqui. Chegando a outra casa de cambio, já era tarde.

Para não perder a viagem virei pro lado e pensei, nunca entrei nessa galeria, vou entrar hoje, quando viro de lado estava uma livraria especializada em cinema que meu professor tinha falado semana passada. Pensei que não podia ser uma coincidência. Sorri e entrei.

Olhei tudo que era de cinema, olhei olhei olhei... e não encontrava quem me chamava. Porque a essa altura já estava segura de que não podia ser à toa que eu tivesse ido parar ali. Tendo essa certeza, comecei a investigar o foco de força que me atraía. Sentei para poder investigar com calma e de mais de perto. Quando me salta aos olhos HENRY MILLER, el Ojo Cosmológico. Pensei que não podia ter tanta sorte assim, era impossível que meu escritor preferido, ou um dos preferidos, tivesse escrito sobre cinema. Só podia ser ese Ojo quem me chamava. Folheei, vi que falava umas coisas sobre cinematógrafo mas não me detive, quando pensei que tinha me enganado, salta, ao fim do livro uma autobiografia. Começo a ler e o dono diz que tem que fechar por uns 10 minutos. Coloquei em cima da mesa e disse que voltaria.

Fui embora, fui embora antes que comprasse impulsivamente o livro. Era uma edição de capa dura, com páginas amarelas e uma letra bem mais agradável que das edições novas e baratas. Odeio que os sebos estejam se tornando lugares de comprar livros novos, feios e baratos, quero livros velhos, bonitos e baratos. Voltando ao assunto, hoje acordei pensando no livro, fui praticamente hipnotizada de volta ao lugar. Sentei e voltei a ler autobiografia dele, queria pelo menos chegar em Paris. Chego à ultima página do livro, ao último parágrafo, que mata o mistério do chamado.

Henry diz sem metáforas nem simbologias:

El noventa y nueve por ciento de lo que se escribe - y eso vale para todos los nuestros productos artisticos - deberia ser destruído.

Era a música de hoje.



6.2.11

Não há nada tão bom como tratar-se bem.