Entrou no meu mundo
[por sorte ou azar]
A combinação:
Macarrão, Cream Cheese e Pimenta do Reino
Digo, por que acho importante registrar os acasos da sorte.
[fica bom com: rúcula, tomate, brocolis, salvia, ou qualquer outra comida.]
Amenidades à vontade
perambulando por aí
10.6.14
12.11.12
Uma mesa cheia responde aos auditórios vazios?
Em sua ocupação no CCBB os irmãos
Guimarães criaram um espaço para discutir idéias. O “Encontros – quando nos vimos pela última vez” é
apresentado pelo coletivo assim: Diálogos
que objetivam promover o intercâmbio de artistas e/ou pesquisadores, locais e
nacionais, para discussões sobre literatura, dança, cinema, teatro, filosofia,
artes visuais e performance.
A conversa acontece dentro de um
cenário aconchegante como poucos cafés chegam a ser em Brasília. O espaço do
chá consiste em uma mesa enorme de madeira escura e bem lisa, cheia de quitutes
e porcelanas, ambos finos. As pessoas se sentam em cadeiras de madeira e com o
encosto trançado, como o das cadeiras de casa de vó que hoje voltaram a ser sofisticados.
As porcelanas são para café e chá – de frutas vermelhas, de melissa com flor de
laranjeira e camomila. Engraçado que o Brasil nunca me pareceu um lugar muito
de chás... As pessoas quase sempre saem de casa para tomar um cafezinho, mas
nesse espaço o desejo pelo chá aflora. Às vezes combina com as cadeiras, ou
mesmo com os quitutes e os mini-cupcakes. Na mesa, cabem aproximadamente
30 pessoas. Conversa vai, lista de espera vem, acho que 30, ou 35 conseguem um
lugar na sala. No primeiro dia, em que a entrevistada era Eleonora Fabião,
todos que não conseguiram ingressos entraram, uns 8 se sentaram no sofá. Esse
quase não entrar foi suficiente para causar frisson e burburinho. No dia
seguinte, quando entrevistador e entrevistado trocaram de lugar, a lista de
espera para conversar com André Lepecki era de quase 30, mas como muito mais
gente conseguiu entrar por métodos escusos que no dia anterior – só os 5
primeiros da fila da espera conseguiram lugar.
Um evento com os mesmos
entrevistados, se acontecesse em um auditório conseguiria abrigar todos. Mas
seria mais um auditório vazio, como os que fomos nos acostumamos a freqüentar
com o tempo. As cinqüenta pessoas, que pensaram em dedicar sua quinta-feira à
noite a André, espalhadas em um auditório, configurariam um fiasco, ainda que a
discussão fosse hipoteticamente a mesma. Isso porque, aparentemente, o sucesso
dos eventos não pode ser medido só pela genialidade das idéias que ai circulem ou
pelo tanto de inquietação que possa chegar a provocar no público. Esses eventos
são medidos basicamente pelo número de pessoas que conseguem juntar, porque todas
coisas nesse mundo, são medidas com números (vide os editais de cultura do
país). E perceba que não é para nada fácil tirar as pessoas de seus
universos/ocupações individuais para conhecer um outro mundo proposto. Quantas
vezes quem produz cultura não se pergunta sobre como tirar as pessoas do
aconchego do lar ou da repetição da rotina?
Com uma programação que além de
Eleonora e André, envolve nomes como Ciro Marcondes, Esmir Filho e Christiane
Jatahy, os Irmãos Guimarães deram motivos mais que suficientes para quem estiver
em busca de inquietações levantar do sofá e ir até o setor de clubes sul discutir idéias. Mas bons entrevistados nem sempre garantem a robustez do auditório. Eles conseguiram uma mesa cheia e uma lista de espera bastante razoável, é aí, também,
quando, a própria dificuldade de entrar no lugar é parte do sucesso: de um dia
para outro a quantidade de pessoas dobrou (e estamos tratando de um encontro
que até mesmo encontrar a programação na internet é difícil). Além do evento,
eles conseguiram criar um acontecimento a partir das circunstâncias.
Os encontros carregam no seu
formato ao mesmo tempo uma resposta ao nosso mundo individualista e uma
reprodução do mercado capitalista. Responde ao individualismo quando consegue
tirar as pessoas de casa e lhes mostra que se esses espaços de discussão fossem
mais freqüentados, talvez essa sala tivesse sido pensada num tamanho maior. Reproduz
o mercado do capital, na medida em que se sustenta na especulação: quanto mais
difícil é conseguir um lugar para escutar o que Eleonora tem a dizer, mais
valorizado se torna o lugar para escutá-la. Por isso mesmo não existe
transmissão simultânea fora da sala. O que me faz lembrar o texto de Ronaldo
Entler, publicado no blog Icônica, em que discute os preços do mercado da arte:
Esse é portanto um jogo
tautológico, autorreferente: o preço sobe porque estão apostando, cai porque
param de apostar, sem a necessidade de justificativas exteriores ao jogo. O mercado e o mercado da cultura ainda que
aparentemente distintos, em função da diferença entre um apartamento e uma
exposição, são exatamente iguais no que tem a ver com seu funcionamento básico.
Essa foi a grande sacada dos irmãos Guimarães: que vender um evento cultural em
Brasília é exatamente igual a vender um apartamento.Ou seria uma palestra-performance-protesto.
26.4.12
7.4.12
15.6.11
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