6.4.10

Utopia e Barbarie [e letargia]

Não demorei muito a perceber que o filme não passava pelos montes de informação histórica dados a cada minuto. Não seria mais um documentário sobre as revoluções de 68, e também seria. Toda aquela conhecida, e exaustivamente explorada, história nos levava a outra história: de Silvio Tendler naquele e nesse mundo. O documentarista colocou-se a dificil missão de registrar em imagens seu processo pessoal de entender o mundo das utopias, o mesmo que se transformaria em mundo das barbaries a medida que os regimes iam caindo e sendo revelados. Revisamos o que Tendler, viu e viveu, sua reconstrução ideológica que parte da decepção de toda a geração que acreditou num mundo que nunca se fez.

Assim como fez Joao Moreira Salles, em Santiago, Tendler deixa o verdadeiro filme ir se revelando a partir dos offs que colocam os pensamentos dos diretores, que são além de narradores, os protagonistas da história. Uma alternativa interessante ao papel do narrador, que nos aproxima dos seus pensamentos. Seus pensamentos estavam em Dilma Rousseff, em Eduardo Galeano, em Pablo Neruda, em todos os que acreditaram. Assim, as entrevistas foram usadas com toda a delicadeza que é preciso se ter quando expõe a intimidade das pessoas. Não apelou, por exemplo, para o meloso [e brega] zoom nos olhos de quem contou do enterro de Pablo Neruda. Mostrou-nos a cena da multidão declamando a poesia do poeta que morreu de dor na alma, ao ver o chile tomado pelos militares. Por ai, já estavamos iniciados no tema do amor.

Tendo nascido em 1985, em uma família católica conservadora do nordeste brasileiro, fui me deparar com esses ideais bem longe de casa, e já tinha entendido muito dos sonhos desse tempo. Somente agora, no entanto, senti o tamanho da desilusão. E agora? E o que fazem os jovens de agora? O que amam os jovens de agora? Dinheiro? Somos de uma geração individualista, como o capitalismo precisa que sejamos. Mas o egoismo mata toda forma de amor. Assim como também toda forma de ideal.

Entendo o que a senhora que me levou ao ponto de taxi, enquanto me contava que militava até 20 horas por dia na sua juventude, espera de mim. Que eu tente, continue tentando. De alguma forma, que a velhice possa se alimentar numa juventude viva. Dizia-me que levaria seus filhos a verem a película.

6 comentários:

Mariana do Vale disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mariana do Vale disse...

Os jovens de agora têm causas [quando têm] menos revolucionárias... Somos mais pacificistas com nossas tímidas tentativas de preservar o meio ambiente. As discussões políticas não mobilizam o suficiente e já não são mais taxativas, passam por rodas de bares e são abordadas entre um gole e outro. Individualistas. Acertiva colocação. O "cult", hoje, é a omissão. "Não tenho nada com isso". Ainda que os mais sentimentais permitam-se pensar que não há solução e, portanto: "Deixe estar. Que resolvam os grandes!"
Tento, mas meu pai foi um jovem mais interessante que eu...

Unknown disse...

Sou contra a nostalgia de algo que não se viveu... alguém já disse que o passado é sempre melhor, porque parece que se tem saudade do que foi bom, idealizando-se uma realidade nunca existente... Certamente o ano de 68 mudou muita coisa, os ventos eram outros, os tempos eram outros. Acho justo - e válido - aprender com a história, mas acho que temos de fazer nossa própria tb, aprendendo com o que foi e no que pode vir a ser. Mas sem idealismos falsos, sem imaginar revolucionários que nem tão revolucionários eram assim... Concordo com o vazio de hoje. A apatia reina e as pessoas não conseguem sair da inércia de acordar e dormir pra UM NADA... Não acho que nossa juventude seja carente de ideais ou de idéias. Acho que falta é interesse em pensar COLETIVAMENTE, pra mudar tb, em conjunto.

Unknown disse...

voy a ver la película hoy!

maria ruela disse...

ainda quando se pensa a coletividade parece ser a partir a individualidade...

melzinha disse...

Vou ver amanhã. Mas tenho medo de perceber cada vez mais que é tudo um vão, em vão.

Te extraño!