13.11.08

cena 10

Passou a tarde inteira na cozinha. Cozinhou um arroz com cuidado e um salmão ao molho de alcaparras, para a sobremesa teriam a torta preferida dele, torta alemã comprada na doceria da esquina. Quando o jantar já estava bem encaminhado, foi até a sala, arrumou as rosas, as velas, a toalha da mesa e as taças.

Colocou o vinho para gelar e foi tomar banho. Primeiro o exfoliante, depois o sabonete, depois o óleo de amendoas, para sua pele estar impecável a noite, para que ele lhe dissesse que não havia pele mais macia, e delicadamente lhe perguntasse se poderia se embebedar em seu odor. Enchugou-se, passou o rímel, a sombra delicadamente brilhante, o batom bem vermelho. Vestiu-se de preto.

Tomou alguma coisa que estava na carteira e tocou a campanhia. Ela abriu a porta. Convidou-o para sentar e buscou-lhes o vinho de entrada que acompanharia as amenidades.

Como quem não quer nada ele disse: estou morrendo de fome. Derretendo em suavidade sua voz grave lhe responde: Então vamos jantar.

A bela mesa de rosas e velas foi complementada com o arroz e o salmão. Ela serviu os dois.
Não falaram. Ela viu flores e salmão. Já ele atribuia todo aquele maravilhoso sabor, à fatia de figado e um grande pedaço de coração de que ela lhe servira. Não conseguia olhar pra frente porque via no corpo dela o vazio de cada parte que lhe servira, passou todo o tempo olhando seu prato. Quando sem querer olhou pra frente, viu suas cavidades vazias serem preenchidas por um liquido gosmento e verde que estava na taça. Ela tomava vinho.

Finalmente acabou a etapa de romantismos desnecessários, poderiam trepar. Percebeu que era sua hora e fazer alguma coisa, levantou-se da mesa, puxou-a pela mão... pensou com certo nojo que treparia também com sua metade gosma. Ela levantou-se pensando que naquele dia poderia ser homem, e somente trepar, esquecendo da merda que fora o jantar em que eles não só nao trocaram uma só palavra, como ele nem conseguiu perceber seus olhos pintados, porque não lhe olhara.

Acompanhando os gemidos orgásticos, viu sair dela num vomito interminável toda a gosma verde de que lhe preenchera durante a relação. Era uma gosma espessa, sem fim. Ela levantou e vestiu-se, foi fazer qualquer coisa. Ele se encolheu com medo de morrer afogado no líquido que subia rapidamente em altura no quarto. E morreu, de medo. Dando-a de volta a liberdade que lhe roubara.

4 comentários:

maria ruela disse...

esqueci de dar os creditos da inspiração a lili http://contasseoutrascinco.blogspot.com/2008/10/expurga.html

Lili disse...

aha
q horror.
=)
gosma, viu, irc.

mk disse...

nossa, nojentinho hein? uhuhuhuhu

melzinha disse...

excelente, laroquita. excelente!
gostei muito.